Milhões de pessoas morrem todos os anos com problemas cardíacos. Você sabia que ter dentes e gengivas saudáveis é essencial para evitar que isto aconteça?
Existe alguma ligação entre gengivite e problemas cardíacos?
Em geral, os dados indicam que a gengivite crônica pode contribuir para o desenvolvimento de problemas cardíacos.
Como isso acontece?
A gengivite é uma infecção bacteriana que pode ter efeitos à distância da sua boca.
Com relação a problemas cardíacos, há uma teoria que diz que a gengivite permite às bactérias entrarem na corrente sangüínea e aderir aos depósitos de gordura existentes nos vasos do coração.
Isto pode causar coágulos e provocar um problema cardíaco.
O relatório do Ministério da Saúde dos Estados Unidos sobre saúde bucal afirma que a saúde bucal é parte integrante da saúde geral.
Por isso, escove os dentes, use fio dental e vá ao dentista regularmente.
Com relação à saúde bucal, existem recomendações especiais para quem tem problemas cardíacos?
Para uma perfeita saúde bucal, você deve:
- Manter sua boca saudável. Isto é, escovar os dentes, usar fio dental diariamente e consultar o dentista regularmente;
- Informe seu dentista a respeito de seu problema de saúde geral;
- Siga com cuidado as instruções do dentista e de seu médico e use os medicamentos – como antibióticos, por exemplo – de acordo com as indicações.
Os procedimentos dentários oferecem algum risco a quem tem problemas do coração?
Se você tiver certos problemas cardíacos, existe a possibilidade de você desenvolver uma endocardite bacteriana, uma infecção do revestimento interno do coração ou das válvulas.
Um sangramento na boca pode permitir que certas bactérias bucais entrem no sistema sangüíneo e atinjam as válvulas ou tecidos que foram enfraquecidos por um problema cardíaco préexistente.
Nesses casos, a infeção pode danificar ou mesmo destruir as válvulas e os tecidos do coração.
Há precauções que você deve tomar se estiver enquadrado em algum dos itens abaixo:
- Válvulas artificiais;
- Histórico de endocardite;
- Defeitos cardíacos congênitos;
- Válvulas cardíacas danificadas por problemas como, por exemplo, febre reumática;
- Prolapso da válvula mitral com sopro;
- Miocardiopatia hipertrófica.
Não deixe de conversar com o dentista sobre qualquer problema cardíaco que estiver sentindo e os medicamentos que está tomando.
Ele anotará essas informações em seu prontuário e tomará decisões sobre o seu tratamento dentário em conjunto com o seu médico.
Confira a entrevista com o Dr. Max Grinberg , médico cardiologista do Incor
Qual a relação entre saúde bucal e doenças do coração?
O comprometimento da saúde bucal está diretamente associado a endocardite infecciosa.A doença afeta o coração e pode comprometer as funções vitais, exigindo uma internação prolongada. A endocardite é responsável por uma alta morbidade e por significativas tazas de mortalidade.Em torno de 20% dos doentes não sobrevivem.
Qual é o quadro, hoje, da endocardite?
O Incor, que é um centro de referência na doença, registra a cada mês dez a doze pacientes com endocardite. Cerca de 40% destes casos têm origem bucal e são descobertos tanto por infecções espontanêas, resultantes de dentes ou gengivas em mau estado, quanto pela manipulação de área infectada para tratamento odontológico.Nestes casos, o que provoca a doença é a bactéria Streptococcus viridans, que habita normalmente a boca, sem provocar qualquer dano. Mas, ao entrar na circulação, esta bactéria vai parar no coração e pode provocar a endocardite.
Qual é o principal grupo de risco?
Portadores de doenças ou lesões de válvula cardíaca e cardiopatias congênitas, como o sopro no coração.A pessoa com lesão em válvula ou cardiopatia congênita deve ter a máxima atenção com a saúde bucal. E havendo necessidade de algum tipo de manipulação dentária, deve identificar-se ao dentista como portador de tais doenças e levar declaração do cardiologista de que precisa tomar um antibiótico preventivo, antes de qualquer intervenção.
Qual é o procedimento, no Incor, para este pacientes?
O Instituto do Coração possui um serviço de odontologia e todos os pacientes, antes de cirurgias de válvulas ou doenças congênitas, fazem uma completa avaliação dentária para eliminar focos de infecção.Este trabalho visa a prevenção da endocardite no pós-operatório.
Com base neste acompanhamento, o que se observa em relação a saúde bucal dos cardiopatas?
Para se ter idéia da gravidade da situação, entre os pacientes que frequentam nossos ambulatórios de cardiopatias valvares, apenas 10% podem ser considerados com boa saude bucal. Ou seja, 90% de nossos pacientes têm problemas bucais de alguma natureza. Em geral são pessoas que não tem cuidado odontológico, não costumam ir ao dentista com frequência ou não realizam higiene adequadamente.
A endocardite é a única doença associada à saude bucal?
Pesquisa têm associado as infecções, inflamações e outras afecções de gengiva com a arteriosclerose, que podem comprovar a correlação da saude bucal com a ocorrência de infarto.Apesar de incipientes, estas pesquisas têm boa base cieníifica.
Como é avaliado a postura dos cirurgiões dentistas frente a este quadro?
As novas gerações já tem boa formação e vêm desenvolvendo uma mentalidade clínica.É necessário aprofundar o conhecimento na área médica, mas o que se vê é que há todo o interesse em aprender e melhorar a formação.É muito importante que o profissional se conscientize dessa necessidade e possa fazer uma avaliação mais global do paciente
Qual o principal cuidado no consultório?
A palavra chave é o sopro.Ao identificar um paciene com sopro, o dentista deve fazer a prevenção primária, orientando sobre a escovação e uso do fio dental. Também deve tomar cuidados adicionais, porque é fundamental que a manipulação seja feita com bastante assepsia.Antes de iniciar o tratamento, deve-se administrar doses preventivas de antibiótico. O mais importante, nestes casos, é a comunicação entre o dentista e o cardiologista, para trocar informação e orientar, adequadamente o atendimeneto ao paciente.
Que benefícios esta integração pode trazer ao paciente?
Ela possibilita uma visão holistica da saude.Afinal, a saude bucal faz parte de um quadro geral do organismo e muitas doenças têm expressiva repercussão na gengiva e nos dentes.O dentista que tem esta visão mais genérica pode, inclusive, diagnosticar riscos ou doenças já instaladas que, muitas vezes, não são percebidas pelo paciente.
Em que situações isso ocorre com mais frequência?
São muitos os casos de reações medicamentosas onde a boca funciona como um alarme e as mais diferentes manifestações devem ser consideradas.Determinados antibióticos, por exemplo, descolorem os dentes. Periodontites podem sugerir diabetes e outros tipos de afecções podem indicar quadros de leucemia ou AIDS.Os dentistas precisam fazer estes diagnósticos e orientar o paciente a procurar o médico.
Fonte site Colgate